Como a segunda maior moeda de circulação global, o euro desde o seu lançamento em 2002, enfrentou várias provas de fogo, incluindo a crise subprime de 2008, a crise da dívida na zona euro, o impacto da pandemia e a guerra Rússia-Ucrânia. Em setembro de 2022, o euro caiu para 0.9536 dólares, atingindo o nível mais baixo em 20 anos, deixando muitos observadores desta moeda de queixo caído.
Então, o que exatamente o euro passou? Será uma oportunidade de comprar na baixa ou é melhor continuar a esperar? Nos próximos 5 anos, investir em euro ainda pode ser lucrativo? Vamos começar pela análise do histórico de movimentos.
Era de ouro do euro: pico de 1.6038 em 2008
Ao revisar os últimos 20 anos de trajetória do euro, julho de 2008 foi um ponto de inflexão importante. Na altura, o euro atingiu um máximo histórico de 1.6038 dólares, antes de recuar.
O que aconteceu nesse período? A crise subprime nos EUA estava em plena expansão, e a crise financeira global se espalhava pelo mundo. À primeira vista, a origem da crise parecia americana, mas o impacto na Europa foi ainda mais profundo:
Colapso do sistema bancário: grandes instituições financeiras enfrentaram falências, com ativos depreciando-se drasticamente. Os bancos europeus, por terem laços estreitos com os seus homólogos americanos, também entraram em dificuldades.
Congelamento do mercado de crédito: após a falência do Lehman Brothers, a confiança entre bancos desmoronou, e os empréstimos praticamente cessaram. Empresas e consumidores tiveram dificuldades em obter financiamento, levando a uma estagnação econômica.
Recessão generalizada: investimentos e consumo caíram simultaneamente, e vários países da zona euro entraram em recessão. Houve uma forte fuga de capital para os EUA, pressionando o euro para baixo.
Intervenções governamentais: o Banco Central Europeu precisou reduzir taxas de juros e implementar estímulos quantitativos, medidas que, embora estabilizassem o mercado, pressionaram a cotação do euro.
Bomba-relógio invisível: os cinco países da “zona do porco”: logo após a crise, emergiram problemas de dívida na Grécia, Irlanda, Portugal, Espanha e Itália. Conhecidos como os “Cinco do Porco”, suas dívidas levantaram dúvidas sobre a sustentabilidade de toda a zona euro.
Mercado de baixa prolongada: de pico a mínimos históricos
Nos 9 anos seguintes, o euro passou por uma longa fase de queda. Em janeiro de 2017, caiu para cerca de 1.034 dólares, atingindo o menor nível em quase uma década.
Por que houve uma recuperação?
No início de 2017, vários sinais positivos surgiram simultaneamente:
Dados econômicos da zona euro começaram a melhorar — a taxa de desemprego caiu abaixo de 10%, o PMI manufatureiro ultrapassou 55, indicando aceleração econômica. As políticas de estímulo do BCE começaram a mostrar efeito, e o ambiente de taxas negativas sustentava a liquidez.
Mudanças políticas otimistas — 2017 foi ano de eleições em vários países da zona euro, com expectativas de que governos pró-União Europeia assumissem, fortalecendo a confiança dos investidores. As negociações do Brexit também estavam em andamento, e as preocupações com o pior cenário começaram a diminuir.
Euro extremamente sobrevendido — comparado ao pico de 1.6038 em 2008, o euro caiu mais de 35%. Os fatores negativos estavam quase esgotados, formando uma base para uma recuperação.
Essa recuperação durou até fevereiro de 2018, quando o euro subiu para 1.2556 dólares, atingindo o maior nível desde 2015. Mas esse pico logo virou uma resistência de curto prazo.
Razões para a queda de 2018:
O Federal Reserve começou a subir as taxas de juros, fortalecendo o dólar e pressionando outras moedas. Ao mesmo tempo, o crescimento econômico na zona euro desacelerou, e o PMI manufatureiro recuou de níveis elevados. A instabilidade política na Itália também prejudicou a confiança dos investidores.
Novo mínimo histórico: 0.9536 em 2022
Após anos de volatilidade, o euro atingiu novamente um mínimo histórico em setembro de 2022 — 0.9536. O que aconteceu nesse período?
Impacto da guerra Rússia-Ucrânia: após o início do conflito, o sentimento de refúgio seguro aumentou, levando os investidores a preferirem o dólar. Como vítima do conflito, a Europa enfrentou uma crise energética e uma recessão econômica dupla.
Preços de energia em alta: o fornecimento de gás natural e petróleo russo foi interrompido, levando a aumentos expressivos nos preços de energia na Europa durante o primeiro semestre de 2022. Os futuros de gás natural chegaram a mais de 200 euros/MWh, elevando a inflação na região e os custos operacionais das empresas.
O BCE foi forçado a subir juros: diante da inflação descontrolada, o BCE realizou duas altas de juros em julho e setembro de 2022, encerrando uma era de 8 anos de taxas negativas. Embora isso demonstre determinação de combater a inflação, o ciclo de alta geralmente desacelera a economia.
Porém, após o mínimo de 0.9536 em setembro de 2022, o euro começou a se recuperar:
Redução das tensões geopolíticas: embora o conflito continue, não houve piora adicional, e as expectativas de pior cenário diminuíram. O sentimento de refúgio diminuiu, e o fluxo de capital voltou a favor de ativos de risco.
Alívio na crise energética: com a adaptação da cadeia de suprimentos de energia na Europa (aumento de importações de LNG, reservas energéticas cheias), os preços internacionais de petróleo e gás começaram a cair. Na segunda metade de 2022, os preços de energia na Europa tiveram uma redução significativa, aliviando os custos das empresas.
Situação atual: euro em fase de recuperação
Hoje, o euro já se recuperou do fundo histórico, mas ainda está bem abaixo do pico de 1.6038. Os desafios permanecem:
Crescimento econômico fraco: o PIB da zona euro quase estacionou, com uma estrutura industrial envelhecida. O PMI manufatureiro caiu abaixo de 45 recentemente, indicando perspectivas econômicas pessimistas para os próximos meses.
Risco de normalização na geopolítica: o cenário internacional tornou-se mais complexo, e essa incerteza prejudica o fluxo de capitais em busca de refúgio.
Política monetária divergente: o Federal Reserve começou a adotar uma postura dovish no final de 2023, sinalizando uma aproximação do ciclo de cortes de juros. Já o BCE mantém uma postura cautelosa, e as taxas do euro ainda estão abaixo das do dólar.
Próximos 5 anos: o euro ainda é uma oportunidade de investimento?
Considerando diversos fatores, o futuro do euro dependerá de variáveis-chave:
Primeiro: fundamentos econômicos — se a zona euro conseguir acelerar sua economia e atrair mais capitais internacionais, o euro tende a subir. Caso contrário, a fraqueza econômica continuará a pressionar a moeda.
Segundo: ciclo de política do Fed — experiências históricas indicam que ciclos de redução de juros nos EUA geralmente levam a uma queda de 15-25% no dólar em 3-5 anos. Se o Fed realmente iniciar cortes, o euro se beneficiará do enfraquecimento do dólar.
Terceiro: política do BCE — embora as taxas do euro estejam abaixo das do dólar, o BCE mantém uma postura relativamente estável, o que pode sustentar o euro. O momento de iniciar cortes de juros será decisivo.
Quarto: cenário econômico global — crescimento forte global impulsionará a demanda por bens e serviços da zona euro, favorecendo o euro. Uma recessão ou estagflação, por outro lado, pode levar a uma fuga de capitais para os EUA, prejudicando o euro.
Quinto: riscos geopolíticos — tensões contínuas podem manter o sentimento de refúgio, favorecendo o dólar. Somente quando esses riscos forem claramente amenizados, o euro terá maior potencial de valorização.
Recomendações para investidores
Do ponto de vista do fundo do poço do euro, o momento atual não é totalmente sem oportunidades, mas exige cautela. Aqui estão alguns pontos de atenção:
Perspectiva temporal é fundamental — no curto prazo (3-6 meses), o euro ainda enfrenta dados econômicos fracos e riscos geopolíticos. Mas no médio prazo (1-2 anos), se o Fed começar a cortar juros, o euro provavelmente retomará a tendência de alta. No longo prazo (3-5 anos), o sucesso dependerá das reformas estruturais e da recuperação econômica da zona euro.
Acompanhe de perto os dados econômicos — é essencial monitorar indicadores como emprego, inflação, PMI manufatureiro, pois eles influenciam diretamente as decisões do BCE e, consequentemente, a cotação do euro.
A política do Fed é uma variável importante — uma mudança para uma postura dovish no Fed costuma ser um bom momento para o euro se valorizar frente ao dólar.
Riscos geopolíticos — não ignore o impacto de eventos políticos e conflitos internacionais, pois podem gerar movimentos de fuga para o dólar e pressionar o euro para baixo.
Em suma, o futuro de 5 anos para o euro dependerá do seu horizonte de investimento e da sua tolerância ao risco. Investidores de curto prazo podem aguardar correções adicionais para entrar aos poucos. Para o médio prazo, estratégias de venda de dólar/euro em altas ou compra em baixas podem ser consideradas. Mas, de qualquer forma, acompanhar de perto os dados econômicos e as políticas será imprescindível.
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O euro caiu de um pico histórico, ainda há oportunidade de recuperação nos próximos 5 anos?
Como a segunda maior moeda de circulação global, o euro desde o seu lançamento em 2002, enfrentou várias provas de fogo, incluindo a crise subprime de 2008, a crise da dívida na zona euro, o impacto da pandemia e a guerra Rússia-Ucrânia. Em setembro de 2022, o euro caiu para 0.9536 dólares, atingindo o nível mais baixo em 20 anos, deixando muitos observadores desta moeda de queixo caído.
Então, o que exatamente o euro passou? Será uma oportunidade de comprar na baixa ou é melhor continuar a esperar? Nos próximos 5 anos, investir em euro ainda pode ser lucrativo? Vamos começar pela análise do histórico de movimentos.
Era de ouro do euro: pico de 1.6038 em 2008
Ao revisar os últimos 20 anos de trajetória do euro, julho de 2008 foi um ponto de inflexão importante. Na altura, o euro atingiu um máximo histórico de 1.6038 dólares, antes de recuar.
O que aconteceu nesse período? A crise subprime nos EUA estava em plena expansão, e a crise financeira global se espalhava pelo mundo. À primeira vista, a origem da crise parecia americana, mas o impacto na Europa foi ainda mais profundo:
Colapso do sistema bancário: grandes instituições financeiras enfrentaram falências, com ativos depreciando-se drasticamente. Os bancos europeus, por terem laços estreitos com os seus homólogos americanos, também entraram em dificuldades.
Congelamento do mercado de crédito: após a falência do Lehman Brothers, a confiança entre bancos desmoronou, e os empréstimos praticamente cessaram. Empresas e consumidores tiveram dificuldades em obter financiamento, levando a uma estagnação econômica.
Recessão generalizada: investimentos e consumo caíram simultaneamente, e vários países da zona euro entraram em recessão. Houve uma forte fuga de capital para os EUA, pressionando o euro para baixo.
Intervenções governamentais: o Banco Central Europeu precisou reduzir taxas de juros e implementar estímulos quantitativos, medidas que, embora estabilizassem o mercado, pressionaram a cotação do euro.
Bomba-relógio invisível: os cinco países da “zona do porco”: logo após a crise, emergiram problemas de dívida na Grécia, Irlanda, Portugal, Espanha e Itália. Conhecidos como os “Cinco do Porco”, suas dívidas levantaram dúvidas sobre a sustentabilidade de toda a zona euro.
Mercado de baixa prolongada: de pico a mínimos históricos
Nos 9 anos seguintes, o euro passou por uma longa fase de queda. Em janeiro de 2017, caiu para cerca de 1.034 dólares, atingindo o menor nível em quase uma década.
Por que houve uma recuperação?
No início de 2017, vários sinais positivos surgiram simultaneamente:
Dados econômicos da zona euro começaram a melhorar — a taxa de desemprego caiu abaixo de 10%, o PMI manufatureiro ultrapassou 55, indicando aceleração econômica. As políticas de estímulo do BCE começaram a mostrar efeito, e o ambiente de taxas negativas sustentava a liquidez.
Mudanças políticas otimistas — 2017 foi ano de eleições em vários países da zona euro, com expectativas de que governos pró-União Europeia assumissem, fortalecendo a confiança dos investidores. As negociações do Brexit também estavam em andamento, e as preocupações com o pior cenário começaram a diminuir.
Euro extremamente sobrevendido — comparado ao pico de 1.6038 em 2008, o euro caiu mais de 35%. Os fatores negativos estavam quase esgotados, formando uma base para uma recuperação.
Essa recuperação durou até fevereiro de 2018, quando o euro subiu para 1.2556 dólares, atingindo o maior nível desde 2015. Mas esse pico logo virou uma resistência de curto prazo.
Razões para a queda de 2018:
O Federal Reserve começou a subir as taxas de juros, fortalecendo o dólar e pressionando outras moedas. Ao mesmo tempo, o crescimento econômico na zona euro desacelerou, e o PMI manufatureiro recuou de níveis elevados. A instabilidade política na Itália também prejudicou a confiança dos investidores.
Novo mínimo histórico: 0.9536 em 2022
Após anos de volatilidade, o euro atingiu novamente um mínimo histórico em setembro de 2022 — 0.9536. O que aconteceu nesse período?
Impacto da guerra Rússia-Ucrânia: após o início do conflito, o sentimento de refúgio seguro aumentou, levando os investidores a preferirem o dólar. Como vítima do conflito, a Europa enfrentou uma crise energética e uma recessão econômica dupla.
Preços de energia em alta: o fornecimento de gás natural e petróleo russo foi interrompido, levando a aumentos expressivos nos preços de energia na Europa durante o primeiro semestre de 2022. Os futuros de gás natural chegaram a mais de 200 euros/MWh, elevando a inflação na região e os custos operacionais das empresas.
O BCE foi forçado a subir juros: diante da inflação descontrolada, o BCE realizou duas altas de juros em julho e setembro de 2022, encerrando uma era de 8 anos de taxas negativas. Embora isso demonstre determinação de combater a inflação, o ciclo de alta geralmente desacelera a economia.
Porém, após o mínimo de 0.9536 em setembro de 2022, o euro começou a se recuperar:
Redução das tensões geopolíticas: embora o conflito continue, não houve piora adicional, e as expectativas de pior cenário diminuíram. O sentimento de refúgio diminuiu, e o fluxo de capital voltou a favor de ativos de risco.
Alívio na crise energética: com a adaptação da cadeia de suprimentos de energia na Europa (aumento de importações de LNG, reservas energéticas cheias), os preços internacionais de petróleo e gás começaram a cair. Na segunda metade de 2022, os preços de energia na Europa tiveram uma redução significativa, aliviando os custos das empresas.
Situação atual: euro em fase de recuperação
Hoje, o euro já se recuperou do fundo histórico, mas ainda está bem abaixo do pico de 1.6038. Os desafios permanecem:
Crescimento econômico fraco: o PIB da zona euro quase estacionou, com uma estrutura industrial envelhecida. O PMI manufatureiro caiu abaixo de 45 recentemente, indicando perspectivas econômicas pessimistas para os próximos meses.
Risco de normalização na geopolítica: o cenário internacional tornou-se mais complexo, e essa incerteza prejudica o fluxo de capitais em busca de refúgio.
Política monetária divergente: o Federal Reserve começou a adotar uma postura dovish no final de 2023, sinalizando uma aproximação do ciclo de cortes de juros. Já o BCE mantém uma postura cautelosa, e as taxas do euro ainda estão abaixo das do dólar.
Próximos 5 anos: o euro ainda é uma oportunidade de investimento?
Considerando diversos fatores, o futuro do euro dependerá de variáveis-chave:
Primeiro: fundamentos econômicos — se a zona euro conseguir acelerar sua economia e atrair mais capitais internacionais, o euro tende a subir. Caso contrário, a fraqueza econômica continuará a pressionar a moeda.
Segundo: ciclo de política do Fed — experiências históricas indicam que ciclos de redução de juros nos EUA geralmente levam a uma queda de 15-25% no dólar em 3-5 anos. Se o Fed realmente iniciar cortes, o euro se beneficiará do enfraquecimento do dólar.
Terceiro: política do BCE — embora as taxas do euro estejam abaixo das do dólar, o BCE mantém uma postura relativamente estável, o que pode sustentar o euro. O momento de iniciar cortes de juros será decisivo.
Quarto: cenário econômico global — crescimento forte global impulsionará a demanda por bens e serviços da zona euro, favorecendo o euro. Uma recessão ou estagflação, por outro lado, pode levar a uma fuga de capitais para os EUA, prejudicando o euro.
Quinto: riscos geopolíticos — tensões contínuas podem manter o sentimento de refúgio, favorecendo o dólar. Somente quando esses riscos forem claramente amenizados, o euro terá maior potencial de valorização.
Recomendações para investidores
Do ponto de vista do fundo do poço do euro, o momento atual não é totalmente sem oportunidades, mas exige cautela. Aqui estão alguns pontos de atenção:
Perspectiva temporal é fundamental — no curto prazo (3-6 meses), o euro ainda enfrenta dados econômicos fracos e riscos geopolíticos. Mas no médio prazo (1-2 anos), se o Fed começar a cortar juros, o euro provavelmente retomará a tendência de alta. No longo prazo (3-5 anos), o sucesso dependerá das reformas estruturais e da recuperação econômica da zona euro.
Acompanhe de perto os dados econômicos — é essencial monitorar indicadores como emprego, inflação, PMI manufatureiro, pois eles influenciam diretamente as decisões do BCE e, consequentemente, a cotação do euro.
A política do Fed é uma variável importante — uma mudança para uma postura dovish no Fed costuma ser um bom momento para o euro se valorizar frente ao dólar.
Riscos geopolíticos — não ignore o impacto de eventos políticos e conflitos internacionais, pois podem gerar movimentos de fuga para o dólar e pressionar o euro para baixo.
Em suma, o futuro de 5 anos para o euro dependerá do seu horizonte de investimento e da sua tolerância ao risco. Investidores de curto prazo podem aguardar correções adicionais para entrar aos poucos. Para o médio prazo, estratégias de venda de dólar/euro em altas ou compra em baixas podem ser consideradas. Mas, de qualquer forma, acompanhar de perto os dados econômicos e as políticas será imprescindível.