Como identificar se uma ação está cara ou barata: guia prática do valor líquido contabilístico

Quando inviertes em ações, provavelmente já te perguntaste alguma vez se estás realmente a pagar um preço justo. A resposta está em entender o que é o valor líquido contabilístico e como usá-lo para detectar oportunidades de investimento. Este conceito, também conhecido como “valor em livros”, é a ferramenta que distingue os investidores que ganham dinheiro daqueles que simplesmente compram sem rumo.

O atalho para saber se compras caro ou barato

Imagina que encontras duas ações: uma cotiza a 84€ e outra a 27€. Qual é mais barata? Sem saber o seu valor líquido contabilístico, é impossível saber. A razão é que o valor líquido contabilístico representa o que a empresa realmente vale segundo os seus balanços: os seus ativos menos as suas dívidas, dividido pelo número de ações em circulação.

A ferramenta-chave que os profissionais usam para isto é a razão Preço/Valor Contabilístico (P/VC). Funciona assim: se o resultado for maior que 1, a ação está cara relativamente ao que mostra nos livros. Se for menor que 1, está barata. Tomemos um exemplo real: Acerinox, a empresa espanhola de aço, historicamente apresentou um P/VC baixo, sugerindo que o mercado a subvalorizava. Pelo contrário, Cellnex, outra companhia espanhola, frequentemente cotiza com um P/VC alto, o que indica sobrevalorização relativa.

O que é exatamente o valor líquido contabilístico

Por trás destes números há uma lógica simples: o valor líquido contabilístico é a diferença entre tudo o que uma empresa possui (sus ativos tangíveis) e tudo o que deve (sus passivos). Quando o divides pelo número de ações em circulação, obténs o valor líquido contabilístico por ação.

Fórmula básica: Valor líquido contabilístico por ação = (Ativos – Passivos) / Número de ações

Suponhamos que a empresa “ABC” tem 3.200 milhões em ativos, 620 milhões em dívidas e 12 milhões de ações em circulação. O cálculo seria: (3.200 - 620) / 12 = 215€ por ação. Este número é o valor intrínseco que cada ação contém segundo os registos contabilísticos.

Por que alguns a chamam de “valor em livros”

O termo vem do facto de os contabilistas registarem estes dados nos livros da empresa. Os investidores do estilo Value Investing usam precisamente isto: procurar empresas cujo preço de mercado seja inferior ao seu valor líquido contabilístico, apostando que eventualmente o mercado corrigirá o preço e reconhecerá o verdadeiro valor do negócio.

A diferença-chave com o valor nominal é que o nominal se calcula no momento de emissão da ação, enquanto que o valor líquido contabilístico muda constantemente à medida que a empresa obtém lucros ou perdas, refletindo as circunstâncias atuais do negócio.

Os riscos de confiar demasiado nisto

O caso do Bankia é o exemplo mais cru: em 2011 saiu à bolsa com um desconto de 60% face ao seu valor contabilístico, o que parecia uma pechincha histórica. No entanto, o seu desempenho foi catastrófico, levando à sua liquidação e absorção pelo Caixabank em 2021. O que falhou? O valor líquido contabilístico não captura riscos ocultos nem a qualidade real dos ativos.

Outra limitação importante: o valor líquido contabilístico ignora os ativos intangíveis. Para uma empresa de software ou biotecnologia, isto é um problema enorme. O custo de desenvolver um programa é baixo em termos contabilísticos, mas o seu valor real é exponencialmente maior. Por isso verás que as empresas tecnológicas tipicamente têm P/VC muito mais altos que as industriais.

Também está o problema da “contabilidade criativa”: embora seja legal, alguns contabilistas podem inflar ativos ou minimizar passivos, maquilhando os números. E nas pequenas empresas (small caps), o valor líquido contabilístico é quase inútil porque são negócios em crescimento onde o valor futuro prometido é completamente diferente do valor atual em livros.

Como usá-lo sem te enganar

O valor líquido contabilístico funciona melhor dentro da análise fundamental: o estudo profundo dos balanços, condições macroeconómicas, posição competitiva e perspetivas futuras da empresa. Não é um sinal de compra automática, mas um dado que complementa a tua investigação.

Quando considers investir numa ação, olha para o seu P/VC. Se estiver abaixo de 1, é promissor, mas depois investiga: por que motivo o mercado a subestima? Existem riscos que ninguém vê? O setor atravessa crises? As verdadeiras oportunidades surgem quando combines um P/VC atrativo com uma análise sólida do negócio e das suas vantagens competitivas.

O valor líquido contabilístico é a tua bússola, não o teu mapa completo. Usa-o como respaldo nas tuas decisões, nunca como a razão principal para comprar ou vender.

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